terça-feira, 26 de maio de 2009

Defesa de Edição e Direção do filme "Quando eu me tornei artista"

Esse é um filme conceitual sobre a arte na contemporaneidade e sobre a morte.
A morte vem nesse roteiro como metáfora das relações egocêntricas que vivenciamos nas grandes urbes. Como contar uma historia com temas tão urgentes para nós sem que isso fique com uma estética ultrapassada e datada?
Esse roteiro é uma adaptação de um conto meu em que escrevi em apenas meia hora, era algo que já estava tão intrínseco em mim que foi de fácil absorção para virar palavras, já o processo de adaptação dessa historia para uma narrativa visual eu me debrucei sobre diversas questões lingüísticas, afinal como já estamos cansados de ouvir tudo já foi contado e de todas as formas possíveis.
Através dessa duvida eu recorri ao conceito pós-moderno que se caracteriza pela fragmentação da narrativa e da estética cênica apresentada. Percebi que o que eu tinha nas mãos era um poema visual e que a partir disso eu poderia muito bem ir pela linha do pós-moderno (da fragmentação não só da narrativa como também da estética).
Escolhi então dois conceitos estéticos para trabalhar essa fragmentação lingüística:
1º Quero fazer um filme que seja esteticamente verdadeiro, com pouca elaboração de construção de luz, ambientes naturalistas, mas que ao mesmo tempo esse cotidiano seja quebrado por pequenas cenas alegóricas, ou seja, quero usar o “Cinema-olho” do Dziga Vertov para captar o cotidiano num sentido de urgência, para absorver a realidade dos fatos e transformá-los aos olhos do espectador através da edição, e por isso a minha defesa de direção depende completamente da edição, por isso vou também ser o editor do filme.
2º E vou também usar o conceito do cinema-poesia, pois nela, não importa tanto o que se fala, mas "como" se fala. O estilo se torna protagonista, e as escolhas do realizador (seja ele poeta ou diretor de cinema) ficam mais evidentes ao espectador, apesar de seus significados permanecerem mais abertos.
A questão é: o cinema contemporâneo esta cada vez mais pautado no naturalismo, por que não fazer um filme naturalista, mas que apresente ao espectador a poesia do seu cotidiano? O Teatro e a Literatura já fazem isso ah muito tempo, e o cinema? Não me lembro de presenciar experiências estéticas desse tipo no cinema.
Por isso minhas referências são múltiplas:
Existem dois filmes brasileiro e contemporâneo que seguiram um pouco desse conceito, se trata de “Cão sem dono” de Beto Brant, e “Nome Próprio” de Murilo Salles, essas são minhas principais referencias conceituais para o filme já que eles têm uma estética fotográfica e de Direção naturalista com algumas cenas poéticas, já alguns curtas de Man Ray que foi um Dadaísta americano traz para mim algumas referencias de experimentações de imagem que vão dar ao meu filme o tom alegórico que falo em algumas cenas.
È um filme sobre o centro de São Paulo então peguei de referencia fotográfica “A via Láctea” de Lia Chamie e o “Não Por Acaso” de Philipe Barcinski que são filmes que exploram visualmente bastante o centro da cidade.
O meu protagonista é extremamente egocêntrico e romântico, por isso vou utilizar a voz over no filme, o que pretendo é que essa voz também de uma liberdade de interpretação para o espectador já que em momentos que o narrador é explicitamente ele e momentos que quem narra é uma voz feminina, que para mim é a própria cidade dialogando com meu protagonista, porém como eu disse é algo que quero em aberto no filme. Por isso também vou misturar duas texturas de imagem digital, uma mais antiga e outra em HDV, para que quando a cidade é mostrada fora do apartamento do protagonista ela se torne personagem, e ao mesmo tempo uma lembrança distante do personagem.
Dentro do apartamento a imagem é em HDV para que a narrativa fica “mais limpa” sugerindo ao espectador de que se trata de uma lembrança mais recente ou até mesmo a realidade dele sendo mostrada, isso quero que fique ambíguo também já que no final o protagonista se revela morto, então quem nos narrou essa historia? A voz feminina (a cidade, talvez...)? Ele antes de se matar? Ou ele após a morte?
Fazer um filme poético visualmente e narrativamente é o que pretendo com esse curta-metragem por que assim acredito que os dramas contemporâneos devam ser contados, para quem sabe como diria o filosofo Antonin Artaud a arte possa contaminar as pessoas com imagens oniricas que libertem do subconsciente o seu verdadeiro estado e quem sabe assim possa haver algum tipo de transformação e reflexão por parte do publico.


David Cejkinski

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